(Por
Jairo Francisco dos Santos)
“Quem navega à deriva sabe que há vida além
dos mares nos mapas, além das bússolas, astrolábios, diários de bordas além das
lendas dos monstros marinhos, dos mitos...” (autor Marcus Vinicius).
Quando
criança admirava muito minha mãe sair de casa carregada com aqueles mapas
mundi, livros, cartilhas... Ficava sempre a admirar “nossa como minha mãe é
importante”. Parecia que ela era a detentora de todo conhecimento do mundo e
que ser educador era uma tarefa árdua, pois requeria muito esforço e dedicação.
Afinal não era fácil aprender todos aqueles conteúdos para depois ensinar aos
alunos.
Ficava sempre a pensar que quando eu crescesse
não teria dúvida, seria também um professor. Afinal, bastava aprender a
utilizar todo aquele material que minha mãe já tinha produzido e tudo daria
certo, pois os alunos de minha mãe sempre aprendiam direitinho aquilo que ela
ensinava.
Um
certo dia, minha mãe desistiu daquilo
tudo e resolveu se dedicar ao cultivo da terra que tinha obtido com dinheiro
que havia recebido pelos seus oito anos de profissão. Nunca entendi direito a
atitude de minha mãe, afinal eu me orgulhava tanto da sua profissão, pois de
cultivar a terra todos meus vizinhos entendiam, mas ser professora era
exclusividade dela.
Volta Grande, Caxambu do Sul (SC). Professora Maria Belonice Menoncin dos Santos com seus alunos da Escola Municipal Barra Bonita no ano de 1972. |
Já crescido, numa daquelas
tardes de longa conversa e chimarrão curto (digo chimarrão curto pelo pequeno
tamanho da cuia de minha mãe), perguntei a ela o motivo de ter abandonado o
magistério tão precocemente e fiquei surpreso com sua resposta “Olha... eu
adorava ser professora. Tinha certeza que eu tinha nascido para aquilo.
Entretanto, quando o governo disse que nós teríamos que trabalhar sobre sexo!!!
Há!!! Não tive dúvidas... tô fora!!!”
E
foi assim que minha mãe deixou de ser professora. O motivo à razão “trabalhar
sobre sexo”. Um tema que para ela, que fora educada nos princípios da moral e
dos bons costumes, era um
tabu.
Mas
o que está história de minha mãe tem a ver comigo? O que esta conversa com o
meu passado tem a ver com SER EDUCADOR NO SÉCULO XXI? Talvez nada, talvez tudo.
O
orgulho de infância de ser filho da professora, somado as brincadeiras de
escolinhas com o material de trabalho organizado pela minha mãe nos tempos de
professora, tornou-me um educador.
Formado em Letras
Português/Inglês, pós-graduado em Metodologia do Ensino da Língua Portuguesa e
Mestrado em Educação. Sou educador a
mais de 12 anos. Estava com uma dúvida medonha. Vendo minhas poucas economias
conseguidas com o meu salário de professor e compro uma pequena chácara e vou
cultivar a terra, ou me desafio buscar
novos conhecimentos sobre Tecnologia na Educação (TIC) para me manter
atualizado?
Quando criança parecia ser tão
fácil ser professor. E de fato era. Mas agora com toda essa moda de computador,
data show... E se não bastasse o governo envia para a escola aqueles
computadorzinhos e quer que eu trabalhe com os famosos laptops.
Sinto-me igualmente a minha
mãe, que há alguns anos atrás foi incumbida de trabalhar sobre “sexo”. Tenho a sensação que aqueles laptops são
igualmente aquelas esfinges que dizem “decifra-me ou te devorarei”.
Não
tive dúvida, vou em busca desse novo conhecimento. Não por estar convencido que
apenas a utilização das novas tecnologias na educação vai por si só resolver
problemas nevrálgicos no ensino brasileiro. Mas pelo simples fato de quando
criança, não ter brincado de ser agricultor e não entender nada sobre o cultivo
da terra.
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